Passaram as eleições e no mais pleno exercício democrático surgiram rusgas e atritos dentro de um universo que, em teoria, deveria ser para discussão de ideias e debate aberto e democrático: as redes sociais. Com o segundo turno, o que se detectou no universo online social – em especial no Facebook – foi uma onda de guerrilha ideológica que variou do humor bem sacado do momento até uma aproximação perigosa com situações de violência, como as que envolvem as torcidas organizadas de futebol.
Agora, nem uma semana após os resultados definitivos das urnas e logo após o turbilhão de mensagens extremistas, o que encontramos no rescaldo do incêndio?
Soraya Renfro, social media da kakoi Comunicação, aponta alguns pontos que precisam de uma analisada mais crítica. “Tivemos exageros, pelos dois lados envolvidos nesta bipolarização. Muito disso é reflexo das manifestações do ano passado, quando muita gente abraçou causas que até então nunca tinham se ligado – seja por falta de oportunidade de participar ou apenas falta de interesse” esclarece Soraya.
O lado positivo
A social media aponta que muitas ações foram bem sacadas durante o processo eleitoral, o chamado marketing de oportunidade.
“A campanha criada através de capas falsas da revista Veja conseguiu alcançar o objetivo muito bem. Mostrou inúmeras capas desta revista com manchetes absurdas e conseguiu passar a mensagem que eles acreditavam, que a revista estaria supostamente tendenciosa para um dos lados da eleição, mas sem ofender com palavrões ou acusações diretas”. Soraya explica que os dois lados envolvidos, esquerda e direita, acabaram entendendo o humor e ação foi aceita numa boa.
Outras ações que chamaram a atenção foram durante os debates (como vários memes da candidata Dilma Rousseff (PT) mandando várias pessoas fazer um Pronatec, independente da formação desta pessoa) até uma campanha da página do Viaje + Turismo, chamando os internautas que afirmaram que iriam se mudar do Brasil caso perdessem.
Já o churrasco conciliatório foi um evento criado com o intuito de promover a amizade entre os tucanos e os petistas. O evento começou tímido, com apenas 600 confirmados, mas conforme foi se aproximando o segundo turno, mais de 23 mil confirmaram a presença.
“A descrição do evento falava que nunca as redes sociais tiveram um papel tão importante nas eleições e que isso abalou amizades, e por isso deveríamos fazer um churrasco para fazer as pazes. Dentre as atrações do evento, Lula e FHC estariam confirmados com aperto de mãos para selar a paz. Além disso, duelo de passinhos de Dilma e Aécio e momento oração com a Marina Silva” lembrou Soraya, ressaltando o bom humor da inciativa.
O lado negro
Por outro lado, a intolerância também esteve presente. Mensagens separatistas por parte de sulistas que culpam o nordeste pelo resultado da eleição ou mesmo atacando os seguidores da parte derrotada como sendo intolerantes e nazistas acabaram gerando discussões enormes e até mesmo bloqueios de amigos – justamente para evitar perder amizades.
O número de notícias fakes divulgadas e tomadas como verdade também cresceu muito, e Soraya aponta outro problema latente nesses dias: a falta de checagem das informações.
“Sair compartilhando denúncias, vídeos e montagens sem verificar a origem é bem comum, Uma montagem do candidato Aécio Neves (PSDB) em uma balada, com bebidas na mão, foi uma das que mais circularam. Na ansiedade para convencer outras pessoas, alguns internautas acabam publicando muitos absurdos sem questionar se é verdade, sem esquecer, é claro, da morte do que não morreu, Alberto Youssef, que segundo as teorias da conspiração teria sido envenenado. Esta última mais grave pois envolveu inclusive parlamentares”.
Atitudes como essas também geraram muitas situações constrangedoras, mas tudo está voltando ao normal no mundo virtual. “Não havia diálogo nas redes sociais. Mas isso já está passando como tudo nas redes sociais. Hoje, muitas fotos de perfil com LUTO já foram trocadas e as pessoas estão voltando ao normal. O que dá para tirar de lição com essa loucurada toda é que há muita intolerância ainda, mas também há pessoas bem intencionadas que conseguiram expor suas ideias ou desabafar” afirma Soraya.
Para finalizar, a social media é enfática de que, no final das contas, todos perceberam que não se trata de uma guerra: “Eu espero e acredito que tenha servido de lição: é preciso manter a calma e não agir por impulso, checar tudo e analisar se vale à pena terminar anos de amizade apenas por uma postagem via Face” conclui Soraya.