Eu tinha pouco mais de 08 anos e sabe Deus por que motivo estava assistindo o fatídico (para o Lula) debate presidencial entre Lula e Collor na Rede Globo, lembro (claro, pode ser a minha mente misturando conhecimento com lembrança) quando Collor acuou Lula de ser rico, de ter um aparelho 3X1 que ele, Collor, não tinha dinheiro para ter. No dia seguinte estava nos principais jornais impressos do país a propaganda das Lojas Arapuã:
O 3×1 que o Collor não tem pode ser seu em 10X sem juros.
Simplesmente genial. Na época não me perguntei, mas você parou para pensar que os debates terminam perto das 00h e que os jornais precisam rodar. O cara parou as máquinas dos jornais, feito reservado para pouquíssimos.
Mas quem era esse cara? Washington Olivetto.
Olivetto, segundo a sua biografia, furou o pneu do carro em frente a uma agência de propaganda, entrou para pedir o telefone emprestado, olhou o ambiente e sentenciou:
– É isso que eu quero fazer para o resto da vida.
Já intimou o dono a contratá-lo. Conseguiu. Virou estagiário da agência HGP. Depois foi para a Lince Propaganda como redator e ganhou seu primeiro prêmio de relevância: O Leão de Bronze em Cannes.
Washington Olivetto é, sem dúvida, um dos publicitários mais icônicos e premiados de todos os tempos. Se você existiu no Brasil entre os anos 70,80, 90, 2000, com certeza se deparou com criações do WO. “Primeiro Sutiã”, “Garoto Bombril” ou daquele famoso cachorrinho da Cofap? Sim, o caro dá nome para raça de cachorro.
O grande boom da carreira veio em 1973, quando Olivetto entrou para a lendária DPZ. Foi lá que ele se uniu ao Francesc Petit e, juntos, eles colecionaram prêmios, incluindo o primeiro Leão de Ouro da publicidade brasileira em Cannes. E tudo isso com o comercial “Homem com mais de 40 anos”, criado para o Conselho Nacional de Propaganda.
Falar de WO é falar de vida, não de morte.
O homem vai, a criação fica.
Inquieto, Em 1986, Olivetto decidiu que era hora de seguir novos rumos e abriu sua própria agência, a WGGK, em parceria com a suíça GGK. Mas a parceria internacional não durou muito e, em 1989, ele comprou a parte dos suíços e transformou a agência na mítica W/Brasil, um verdadeiro marco na história da publicidade brasileira. E, claro, mais prêmios vieram! Em 2010, ele uniu forças com a McCann-Erickson e deu origem à WMcCann.
O WO era tão brasileiro, mas tão brasileiro que foi até sequestrado em 2002. Ficou 53 dias em cativeiro, até ser libertado em 2 de fevereiro daquele ano. O caso tomou grande repercussão na mídia e virou um dos assuntos mais comentados no Brasil na época.
Todos nós que trabalhamos com marketing atualmente, devemos muito ao WO. O homem da ousadia, do enfrentamento, da democracia corinthiana.
Descanse em paz, mestre.
Se você ainda não ligou o nome à pessoa, vai reconhecer esses comerciais criados por WO que ficaram para a história:
“Primeiro Sutiã” (1987) – Quem não lembra do bordão “O primeiro Valisère a gente nunca esquece”? Essa campanha da W/GGK para a Valisère é até hoje um clássico da publicidade.
“Garoto Bombril” (1978) – Com mais de 300 filmes e 26 anos ininterruptos no ar, o Garoto Bombril, interpretado por Carlos Moreno, virou um dos personagens mais icônicos da propaganda mundial. Tudo começou na DPZ, com a dupla Olivetto e Petit.
“Hitler” (1988) – Esse comercial da W/GGK para a Folha de S.Paulo foi ousado. Com a famosa frase “É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”, ele marcou pela sua crítica afiada e direção impecável.
Cachorrinho da Cofap (1990) – Até hoje, muita gente ainda chama o Dachshund de “cachorro da Cofap”. Essa campanha é uma verdadeira prova do poder criativo de Olivetto e sua equipe.